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quinta-feira, 5 de maio de 2011

O BANHEIRO


fonte:recantodealvorada.blogspot.com


A escola pública da rede estadual, dirigida pela Sra. Carla Pereira, funciona em um prédio antigo, localizado na zona urbana de uma cidade de médio porte. Atende a, aproximadamente, 160 crianças e jovens do ensino fundamental e médio. Ao final do ano letivo, a diretora decidiu promover algumas reformas na escola a fim de possibilitar o acesso de pessoas com deficiência, uma vez que havia a matrícula de dois cadeirantes, um usuário de muletas e a intenção da gestão de promover a inclusão.
A reforma foi planejada e sua execução contou com  a ajuda de pessoas da comunidade, que trabalharam em regime de mutirão. Uma rampa foi construída na entrada da escola e, dos dois lados, foram colocadas barras. As mesas do refeitório foram dispostas de outra forma, abrindo-se o espaço para movimentação de cadeirantes. O mesmo foi feito dentro das salas de aula. Esta disposição não deu trabalho, pois as dependências do prédio  eram bem espaçosas, devido à arquitetura antiga. Em dois anexos, construídos há mais ou menos 5 anos, quando a escola começara a crescer em número de estudantes, havia os banheiros masculino e feminino. Cada anexo contava com 06 banheiros de um lado e 06 pias de outro, formando um corredor ao meio.
Em cada um dos anexos, dois dos banheiros foram transformados em um só, mais largo e espaçoso. No interior, foram instaladas barras fixas nas paredes e o trinco da porta foi colocado mais baixo.
Uma das pias foi rebaixada e, ao lado, também foram fixadas barras. O piso foi substituído por um  adequado, antiderrapante. Outros pequenos reparos foram realizados, deixando a escola mais bonita.
No início do ano, a expectativa era grande. Como em todo início de ano letivo, as crianças e jovens chegaram à escola com alvoroço e alegria. Os docentes vinham animados e “cheios de gás”; a diretora sentia-se orgulhosa. Pais e mães sorridentes despediam-se dos filhos.
Os novatos chegaram e foram recebidos pela diretora e equipe pedagógica para serem encaminhados às suas respectivas salas de aula. Dentre eles, os recém-matriculados que eram cadeirantes e, agora, teriam uma escola adequada a eles. Todos os estudantes poderiam compartilhar dos espaços comuns de aprendizagem. “E esse seria o primeiro passo para uma realidade de inclusão”- pensava a diretora.
Sentada à sua mesa, resolvendo algumas pendências administrativas, a diretora recebeu a visita de um professor, aparentemente preocupado. Havia um problema a ser resolvido. Um dos estudantes cadeirantes desejava utilizar o banheiro, mas não podia entrar no anexo com a cadeira de rodas, pois a porta era estreita demais.
A porta de entrada da escola era bastante larga, assim como as portas das salas de aula, pois eram formadas por duas bandas de madeira que se abriam ao meio; mas as portas de entrada dos dois anexos nos quais funcionavam os banheiros eram estreitas, conforme as portas comuns dos dias de hoje. O aluno precisou ser retirado da cadeira por um professor, para que sua cadeira de rodas fosse dobrada e levada para dentro do anexo. O  outro estudante, cuja cadeira não era dobrável, precisou ser carregado para dentro do banheiro e ajudado por um professor a utilizar o banheiro e o lavatório.
Tanto trabalho, para quase nada. Ninguém havia pensado  na largura ideal  da porta de entrada para os banheiros.
A diretora lembrou que, antes da construção dos anexos, havia apenas dois banheiros: um dentro de uma sala onde se reuniam os professores e outro no corredor que saía do salão principal e levava à sala dos professores, à diretoria e à biblioteca. O de dentro da sala era utilizado pelas alunas e o do corredor, pelos alunos. Os docentes utilizavam os mesmos banheiros que os estudantes.
Após a construção dos anexos  para uso dos alunos, o banheiro da sala foi destinado às professoras e o do corredor, aos professores.
A diretora resolveu, então, em regime de urgência, fazer uma outra reforma. Como a porta do banheiro do corredor era larga, adequou as instalações para que os estudantes deficientes pudessem utilizá-lo. O banheiro de dentro da sala dos professores passou a ser destinado a  professores e professoras.
A escola, então, podia contar com banheiros: feminino e masculino para os estudantes; comum, para os docentes, e “banheiro para as cadeiras de rodas e muletas e outras coisas que não coubessem no banheiro de todo mundo”, como ficou conhecido.
Uma outra ação de inclusão implementada pela diretora foi a de designar estagiários como ajudantes de professores que tivessem, em sua classe, crianças com deficiência mental. A partir de uma divulgação sobre ser, a escola, um espaço de inclusão, foram feitas matrículas de crianças, principalmente, com Síndrome de Down. Os estagiários permaneciam todo o tempo por conta desses alunos, de forma que o trabalho dos professores não fosse prejudicado.
A diretora, certa vez, passando pelas proximidades do anexo destinado aos banheiros dos meninos, ouviu um deles dizendo a um colega – um menino com Síndrome de Down: “Você não pode usar este banheiro, o seu é aquele lá - disse, apontando para o corredor. Lá é que é o banheiro de quem é diferente”.





5 comentários:

  1. Dayse, como sempre competente! Seu blog ficou ótimo, parabéns pelas discussões. Bjs Vaneza

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Oi, Dayse!
    Parabéns pelo seu Blog! Muito interessante e oportuno! Pelo relato do caso, entendemos que ainda temos muito a aprender sobre a inclusão, não é? Como pensar em uma reforma nos banheiros sem se preocupar com o acesso a ele? Embora tenha contado com a boa vontade das pessoas da comunidade era preciso contar com orientações sobre a legislação que trata da acessibilidade, com Analistas da SRE(Equipe SAI) e com Engenheiros. Afinal, mais que ficar bonita, a escola precisa atender às reais necessidades do seu público.
    Sobre a rede física, é este o comentário. Posteriormente falaremos sobre as relações interpessoais.
    Abraços
    Ailza

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  4. Oi Dayse!
    Parabéns pelo Blog...muito criativo e oportuno por abordar um assunto tão discutido e tão polêmico.
    Tenho vivenciado uma situação difícil com um aluno em sala de aula, portador de necessidades educacionais especiais, que está amparado legalmente e necessita do professor de apoio, mas a SME diz não ter condições de oferecer esse profissional para acompanhá-lo na escola.
    Abraços,
    Kátia.

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  5. Oi Dayse,
    muito legal o seu blog. Gostei muito do texto/case. Vou sugeri-lo para a Equipe do SAI - Serviço de Apoio à Inclusão da nossa SRE.
    BJ
    Lúcia Helena - SRE Campo Belo

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